Molchat Doma: O escapismo musical para a USSR
- Thomas Santos
- 23 de jan. de 2024
- 4 min de leitura
Nos últimos anos, a cena musical underground viu uma revolução silenciosa, e um dos grupos que emergiram do obscuro para o estrelato é o Molchat Doma, uma banda bielorrussa que cativou o mundo com sua música envolvente e nostálgica. Este artigo mergulha na jornada de sucesso do Molchat Doma, explorando sua origem, evolução musical e o impacto que tiveram na cena musical global.
A Bielorrússia, muitas vezes chamada de "Última Ditadura da Europa", é uma nação localizada na Europa Oriental. É limitada pela Rússia a leste, pela Ucrânia ao sul, pela Polônia a oeste e pela Lituânia e Letônia ao norte. Com Minsk como sua capital e maior cidade, a Bielorrússia tem uma história rica e complexa, influenciada por séculos de domínio russo e soviético.

manifestantes em Minsk, Bielorússia
Des-governada pelo ditador Aleksandr Lukashenko, (o gênio absoluto por trás de afirmações como: Covid? Cura é vodka e sauna!) A Bielorrússia ainda é um país muito preso as tradições soviéticas, por força do seu regime opressivo e ditatorial. Se essas tradições se restringissem a pesada arquitetura, tudo bem. Contudo, tais costumes vão desde práticas econômicas até repressão e censura. Para alguma banda local poder tocar ao vivo no país, é necessário requisitar uma prévia autorização ao regime local, que verificará o histórico, as letras e até a imagem do grupo. Caso a autorização seja negada, representantes do regime bielorrusso vão até o local onde a apresentação aconteceria para verificar se realmente o show não ocorreu. O Molchat Doma já experimentou essa censura algumas vezes, muito embora eles afirmem que pouco se preocupam com política e que suas letras quase não abordam o assunto. Mesmo assim, o Molchat Doma é presença frequente na emissora local de TV Belsat, que se intitula independente (uhum, sei) e com a missão de enaltecer a cultura bielorrussa, bem como em rádios.
O Molchat Doma, cujo nome traduzido para o inglês significa "Houses Are Silent", em tupiniquim, '' As casas estão silenciosas'' começou sua jornada em 2017 na cidade de Minsk, Bielorrússia. Fundada por Egor Shkutko (vocais e letras), Roman Komogortsev (guitarra e sintetizadores) e Pavel Kozlov (baixo e sintetizadores), a banda inicialmente encontrou seu lar na cena musical underground local.
A música do Molchat Doma é uma mistura única de pós-punk, new wave e cold wave, com uma aura melancólica e sombria. Suas canções são cantadas em russo, mas sua sonoridade, para nós que não somos fluentes em russo, privyat, se alguém ai falar o idioma, é o que mais interessa, e o que eu acho que é de fato a razão do seu sucesso recente. O trio produziu e lançou de forma independente seu álbum de estreia, S’Krish Nashik Domov (Dos Telhados de Nossas Casas) ainda em 2017, com nove faixas que traziam um som empoeirado, abafado, com sintetizadores que remetiam a época de ouro do Synthpop e do New Wave, guitarras com melodias frias cobertas de reverb, baixo hipnotizante e vocais soturnos que pareciam ter sido gravados do fundo de um porão de algum prédio setentista de Minsk. Um som realmente dançante e sombrio ao mesmo tempo, sovieticamente arquitetado. O álbum chamou a atenção de Davide, o responsável pela gravadora alemã Detriti Records. Davide entrou em contato com o Molchat Doma através do Soundcloud, oferecendo a oportunidade de lançar "S’Krish Nashik Domov" em formato de fita cassete. A oferta foi aceita pela banda e o lançamento rapidamente se esgotou.

Roman Komogortsev, Egor Shkutko e Pavel Kozlov
O álbum seguinte, "Etazhi", lançado em 2018, marcou o começo do sucesso na carreira da banda. Este álbum cativante e melódico foi um sucesso instantâneo entre os amantes da música alternativa, originalmente sendo compartilhado no YouTube por um usuário com o nome de Harakiri Diat, que também subiu outras canções de estilo parecido. O que é interesse no som deles, é essa capacidade que ele tem de transportar você para 40 anos atrás, na verdade, a maioria das pessoas quando escuta (forçadas por mim, confesso) acham que o disco é um gravação quase jurássica. Mas não, o som é moderno e eles conseguiram captar o frio soviético a uma certa falta de perspectiva com essa ambiência 'doomer'. Isso pode até ser considerado uma trend recente, esse som meio 'máquina do tempo'.
"Etazhi" é uma coleção de músicas que evocam uma sensação de nostalgia e tristeza, com letras obscuras que tratam de temas como solidão, alienação e a efemeridade da vida. A combinação de sintetizadores hipnóticos, guitarras sombrias e a voz melancólica de Shkutko cria uma atmosfera única e cativante.

Em 2020, o Molchat Doma viu sua popularidade disparar internacionalmente. O álbum "Monument", lançado naquele ano, consolidou seu lugar na cena musical global. O single "Discoteque" tornou-se um sucesso viral no TikTok, impulsionando ainda mais sua presença online e levando a banda a ser reconhecida em todo o mundo.
Este album é curioso porque a capa faz menção a um dos principais monumentos de Pyongyang, na Coreia do Norte. Será o que o Kim gostou disso?
Eu particularmente gosto mais da sonoridade do ''Etazhi'', acho que é a aquela história da primeira impressão que fica? Então, eu gosto mais deste disco. Hojé é quase impossível passar por algum reel no Instagram que não use a música ''Sudno'' na sua versão original ou remixada de alguma forma, como tentativa de aumentar ainda mais a textura que o som deles tem. Bom, depende do estilo de conteúdo que você consegue no insta.
https://www.youtube.com/watch?v=91GTuZWCQmY - Molchat Doma - Sudno (clipe oficial) Inclusive, queria deixar claro aqui que a Apple TV e a MARV perderam muito a chance de ter incluído alguma das músicas deles no seu filme Tetris, com Taron Egerton. Inclusive, baita filme. Com certeza falaremos dele em outro artigo ou matéria.
A música do Molchat Doma ressoa com uma geração que busca uma conexão emocional com a música. A simplicidade de sua instrumentação contrasta com a complexidade das emoções que suas canções evocam (se você entender russo, caso contrário, é só uma viagem mesmo). O escapismo que a música deles trás, é muito interessante, porque não é na sonoridade apenas, mas nas capas dos seus discos, e nos seus clipes. O som ainda tem influências de um dos principais artistas soviéticos dos anos 80 (dos que eram permitidos tocar) o Kino, do Viktor Tsoi, que é um som que vale a pena ouvir. https://www.youtube.com/watch?v=vsl2-FN7XGs - КИНО – "Закрой за мной дверь" - Kino - ''Feche a porta, eu estou indo embora''
Se vocês gostam de música diferente, acho que vale a pena dar uma conferida. O som deles está em todas as plataformas de streaming. Dasvidaniya, tovarich!
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